Sabemos que a desigualdade no Brasil é um problema enraizado e institucionalizado.
Desde a vinda da família real portuguesa para o país, medidas segregacionistas, como a
própria escravidão e projetos de branqueamento social em 1911, colocou em cheque
milhares de vidas juntamente com suas culturas e tradições.
Apesar da promulgação Constitucional Brasileira garantir, a partir de 1988, o direito à
igualdade sem quaisquer formas de distinção, problemas de desigualdade ainda é
recorrente no país, sendo inflamado após a catástrofe mundial que vivemos com a
Covid-19.
Sendo assim, é de extrema importância que debatemos sobre as causas e consequências
da desigualdade, especificamente no âmbito escolar, no atual cenário brasileiro.
Negligência estatal como principal causa da desigualdade escolar no pós-pandemia
De acordo com o teórico político e filósofo Thomas Hobbes, “o Estado deve ser a instituição
fundamental para regular as relações humanas”, porém, observamos o oposto na realidade.
Nessa perspectiva, a negligência estatal tem corroborado cada vez mais para o aumento
exponencial nos índices de desigualdade escolar.
Práticas discriminatórias, como racismo institucionalizado, é corriqueiro em um ambiente
escolar. Isso, juntamente com a falta ou ineficiência de políticas públicas visando o
bem-estar de todos dentro de um ambiente social, acaba por interferir no processo de
aprendizagem educacional no Brasil.
Não somente isso, a carência em investimentos em educação presencial gera um abismo
entre classes sociais diferentes. Como exemplificação, observamos as diferenças das
oportunidades acadêmicas entre uma pessoa branca elitizada e uma pessoa negra de
classe social inferior. Em termos da trajetória escolar, nota-se que 70% dos alunos que
saem do ensino médio e entram em uma universidade são, na maioria das vezes, pessoas
brancas. Apesar de, nos dias atuais, possuírem as Leis de Cotas, o número de indivíduos
negros ou com renda inferior a 1,5 salário mínimo ainda é muito pequeno, sendo reflexo da
falta de investimentos em recursos educacionais para essas pessoas.
Com a pandemia da Covid-19, a problemática se agravou com a escassez de recursos em
prol da educação remota, tornando-se um dos principais motivos para o abandono
educacional das classes sociais mais carentes. Consequentemente, o ensino a distância
transfigurou-se para um sistema elitizado, na qual somente pessoas com acesso a internet
banda larga e notebooks puderam usufruir do direito constitucional vigente, marginalizando
indivíduos de classes inferiores.
Consequências severas
A educação não inclusiva tornou-se agravante nos últimos anos.Cerca de 100 mil
estudantes abandonaram as escolas entre os anos de 2020 e 2023, e torna-se essencial
apontarmos que 20% desses alunos não possuíam acesso à internet de boa qualidade para
acompanharem as aulas, ficando, dessa forma, para trás de seus colegas.
Além disso, a falta de investimentos centralizados em pessoas de baixa renda colaborou
para um déficit de alfabetização. O número de crianças que, atualmente, não sabem ler ou
escrever aumentou em mais de 60% em comparação com o ano de 2019.
Como resultado, torna-se mais difícil a inclusão dessas crianças nos meios sociais e
educacionais futuramente, pois, ao longo da pandemia, tiveram ainda mais dificuldades
entre a mediação do processo pedagógico. Sendo assim, as desvantagens foram ampliadas
e se tornaram mais severas, prejudicando crianças e adolescentes mais vulneráveis e
aumentando o número de evasão escolar no período mencionado.
Conclusão
Em síntese, é importante que a desigualdade escolar no pós-pandemia seja debatida entre
as diversas esferas políticas do país. Torna-se imprescindível, também, a reintegração dos
jovens e adolescentes na educação, a fim de proporcionar a inclusão social e acadêmica
para todos aqueles colocados à margem da sociedade durante a pandemia.
Apesar das desigualdades serem um problema histórico no país, é preciso que medidas
estratégicas sejam tomadas, principalmente em um ambiente escolar, já que o mesmo é a
porta de entrada e de oportunidades acadêmicas e sociais.